sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Rastro.

A: Talvez eu perceba um instante mais leve. Aquele entre o que é, e o que nunca foi. Aquela coisa tênue e rouca. Das mentiras que a gente percebe, no segundo exato que imaginávamos que eram mentiras. Da certeza que tínhamos, que fazia o mundo dizer que estávamos certos... E o era então! Mas não. Depois, e logo depois, assim, percebemos que era verdade. E o que foi feito do instante da certeza, em que o mundo dizia que era assim e era! Era. E já não é mais.
D: Compreendo.
A: É dessa fumaça que vos falo. Do risco entre o que é e o que não é.
D: Seu amigo não deve ficar a par de tudo?
A: Espere. Não sei ainda para onde vão as coisas.
D: As coisas?
A: As que já não são. Entende? O que deixou de ser. Mas que o era no segundo anterior.
D: (...)
A: Entende?
D: Estou me esforçando. Precisa compreender que...
A: O nada não existe.
D: Por certo que sim.
A: Não existe e começo a sentir medo.
D: (Tomando nota) De que espécie?
A: Medo que exista. E que meu pensamento se esvaia. Que seja sugado. Sugado, compreende? Assim.
D: Hum.
A: Não quero que minhas certezas absolutas e absolutamente geniais possam se perder no vento mole. No vento fraco do que não existe. Nunca mais poderia encontrá-los, está percebendo?
D: Espero sinceramente que isso não tenha a ver com Liz.
A: Não. Não. De forma... alguma.
D: E por que a expressão conturbada?
A: Eu preciso encontrá-la.
D: Ah. E eu aqui ouvindo suas bobagens. Passar bem.
A: Espere. Estou falando do fundo de mim.
D: Sua loucura não me interessa. Disseram-me que encontraria uma pessoa curada, mas vejo que não.
A: Eu preciso dela.
D: Ela nunca existiu.

Um comentário:

  1. As vezes, muitas vezes, tenho medo de você. E me arrepio a cada vez que você me surpreende. A cada momento que imagino ter te desvendado você se torna mais genial. Vou sorver de seus lábios gotas de lirismo, vou tomar-te para mim, vou te sequestrar, fugiremos juntas fugindo das gotas grossas da chuva infinda, chegaremos do outro lado do arco íris encharcadas de espaço em branco (aqueles entre as gotas que não nos acertaram) e nos escreveremos de noite e nos leremos de dia. E assim será, pra sempre!

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