segunda-feira, 9 de março de 2009

Planta Baixa 087

Não sei o que quero dizer, pois não sei se me sabe escutar. A raiva não borbulha, ela esgueira-se. Eu não sei mais, e isso ainda não é fato. Mas quando for, que adianta, se já não saberei? Poderei reconhecer as faces, as faces das coisas que tanto não lembrarei que amei? Aquela pessoa umedece carneiros. Suas lãs já não servem mais. Epiderme que faz papel de alma. Será que eu também troco o que há por dentro, quando penso apenas na minha pele? O que há por baixo? O que há por cima? O que há no meio? O que há? O que há comigo? Aquele amigo ali já foi meu? As pessoas podem ser minhas. Basta que isso eu registre na minha caixa preta. Ela sabe de tudo que acontece. Quando as coisas perdem o seu momento agora, é pra lá que elas vão. E ficam num escuro sem fim. Um escuro da luz que já passou. E não volta. A caixa preta lembra das coisas que eu não lembro. Não posso abri-la, ou cairia no meu próprio escuro. Ou seria sugada para dentro da minha história, que eu nem sei contar. É difícil. Diariamente, construo uma história tentando não estar nela. Poderia eu, talvez, ser apenas um coadjuvante? Por que preciso ser a primeira pessoa? Sempre? A caixa preta guarda também tudo que há de sombrio. Ela é capaz de saber minha sorte, meu presente, passado, futuro. A caixa preta riscou um caminho. Ela pode tomar-me por dentro. Xadrez. Pode ser que me tome o coração. A alma não lembro mais onde fica. E isso me faz um oponente tão fraco. A caixa não esquece nada. Tudo nela está vivo. Tudo o que eu enterrei. Eu escrevo a vida enquanto tento apagá-la. Será que sou capaz de esquecer a forma como você ri?

3 comentários:

  1. Sua caixa preta frente a frente com um buraco negro.(sem trocadilhos, por favor)
    Quem engoliria quem?

    caixa preta tem azia?

    caixa panda de Pretora

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  2. Será que ela é ainda capaz de rir? Faça consquinha... ela ta precisando, e ela jura que as coisas voltam a encontrar o equilibrio perfeito! E a caixa volta a ser um caleidoscópio!

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  3. Ovelhas úmidas me violentariam com olhares tristes.

    O sorriso demora mais, mas também se esvai. Um dia a gente fica até pensando: como é que era aquele sorriso mesmo? aís e lembra e já não é ruim. E a partir do sorriso lembramos do resto, do nariz, de tudo. Seja o rosto de outro ou seja o nosso...

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