sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Suco-de-uva.

Eu já te disse que correr descalça pode resfriar esse sorriso. Ah, esse sorriso dos segredos que os chãos de terra me contaram. Eu seria capaz de matar. E quem é que não seria? Ela chorava pelos cantos. As lágrimas choravam pelos cantos dos olhos. Debaixo do céu, uma boca. Sozinha.

Eu não te disse que guardava um segredo sem dono. Um segredo de alguém que se desfez. Noite passada, sonhei com um orfanato de segredos. Gritos amiudados, esmiuçados, aveludados. Gritos guardados. Mas eu pisava um cemitério de sonhos. Havia uma lápide com meu nome, datada de hoje. Acordei.

Eu empoeirava o chão do quarto dela, enquanto tomava banho pra matar o pó do dia. Eu conversava com a poeira. Braile moderno. Quer ir ao Baile comigo? Mas você era cego. Nunca me viu. Você dançava, cego de poeira. Poeira esverdeada, cor-de-íris de alguém que eu quase amei. Amei.

Eu embolava arames e barbantes, perto do pote de bolhas-de-sabão. Puseram detergente. A bolhas já não são as mesmas. E nem o que refletem. O muito inteiro bóia. Bóia e plana. Olha as curvas dela! Olha o ciclo... Tão frágil. Frágil como o tiro que não te dei. Puseram coisas na minha cabeça. Vento.

Eu queria brincar só. Brincar só de andar contigo. O meu sonho é raso como espuma que sobra do copo. Aquele que deixa marcas redondas na nossa mesa de bar. Meus cotovelos dóem de apoiar a vida numas cinco gargalhadas tolas. De tanto soprar minha vida pra quem não quiser ouvir. Ouviu? Eu só queria brincar. Brinque comigo. Valse comigo. Ria comigo. Goze comigo. Agora.




Amanhã é sempre tarde demais.

5 comentários:

  1. Eu tento dormir em paz, mas em vez de me apagar profundamente, eu perco meu tempo bagunçando o sono do outro. E o outro nem sonha comigo... o outro não me merece e quem me mostrou isso foi ela... ela enxerga onde eu não vejo, ela tem uma arma na mão, e eu sou, nos braços dela, tudo o que há de efemero e de leve, de pluma ao vento.
    *
    Eu corro descalça, resfrio sorriso, que não satisfeito congela coração, e pra sorriso resfriado ela é meu benegripe, e pra coração congelado ela é meu microondas, e eu sou piegas até debaixo d'água (debaixo d'água não, pq resfria...)
    *
    Boca sozinha encosta em lábios finos.
    *
    Havia uma lápide com dizeres tolos, dignos de uma moça tola, que sofre por um amor tolo. Datada de hoje. Não acordei.
    *
    As bolhas de sabão são meus calos de mesa de bar... bem no cotovelo... eu não alcanço.. não consigo lamber...

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  2. Eu tento dormir em paz, mas em vez de me apagar profundamente, eu perco meu tempo bagunçando o sono do outro. E o outro nem sonha comigo... o outro não me merece e quem me mostrou isso foi ela... ela enxerga onde eu não vejo, ela tem uma arma na mão, e eu sou, nos braços dela, tudo o que há de efemero e de leve, de pluma ao vento.
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    Eu corro descalça, resfrio sorriso, que não satisfeito congela coração, e pra sorriso resfriado ela é meu benegripe, e pra coração congelado ela é meu microondas, e eu sou piegas até debaixo d'água (debaixo d'água não, pq resfria...)
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    Boca sozinha encosta em lábios finos.
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    Havia uma lápide com dizeres tolos, dignos de uma moça tola, que sofre por um amor tolo. Datada de hoje. Não acordei.
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    As bolhas de sabão são meus calos de mesa de bar... bem no cotovelo... eu não alcanço.. não consigo lamber...

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  3. nossa, fiquei com um nó no peito! muito belo esse texto.

    beijo da mi de amsterdam

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  4. A cegueira talvez seja apenas uma simples escuridão passageira quando enxergamos com os olhos do coração!!

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  5. "Meus cotovelos dóem de apoiar a vida numas cinco gargalhadas tolas. De tanto soprar minha vida pra quem não quiser ouvir."

    eis ai "o tiro que não te dei."

    vc é incrível...

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